Ser Criança

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Sheila e Lena

quarta-feira, 24 de março de 2010

Dar autonomia aos filhos.

Esse é um texto para os pais refletirem um pouco. Espero que gostem e depois poderemos conversar sobre o seu conteúdo. Boa leitura!


Educar é dar autonomia
Como agir para que nossos filhos sejam pessoas adaptadas, capazes de cumprir as regras de convivência civilizada, sem desencorajar sua autonomia e seu poder transformador. Este artigo do psiquiatra Mauro Mercadante, especialista em crianças e adolescentes, ajuda a refletir sobre a questão.
Durante muito tempo, o filho é a extensão dos pais. A gente se identifica e se projeta nele. A primeira nota da escola sou eu ou é ele que está tirando? O primeiro gol é dele ou meu? Quem é que está jogando no campo? De repente, dois pais estão brigando na quadra e os filhos, paralisados, olhando-os. A gente se reconstrói – ou tenta se reconstruir – por meio dos filhos. Talvez por isso seja tão assustador vê-los caminhar com as próprias pernas e seguir caminhos que não seguiríamos.
Mas educar é dar autonomia. Ser capaz de perceber que nossos filhos vão fazer as suas escolhas e que nós teremos apenas uma pequena participação nisso. Aliás, quanto menor a nossa participação, maior é a atuação deles.
Ninguém é feliz sem limites
Criar uma pessoa que só diga sim, senhor e aceite as regras sem questionamentos é criar uma pessoa destituída da capacidade crítica, alguém que precisaria viver uma terrível crise na adolescência, na tentativa de rever-se.
Isso não significa que para nossos filhos serem felizes e críticos teremos de educá-los sem qualquer limite. Pelo contrário. Os limites existem e precisam ser ensinados. Afinal, é o preço que pagamos por viver em sociedade. O que faz toda a diferença é o modo de colocá-los.
Podemos fazer as crianças aceitar as regras pela culpa, pelo medo, pelo autoritarismo ou pelo amor e pela compreensão. Uma criança pode, por exemplo, parar de espalhar os brinquedos no quarto porque a mãe a ameaça com uma surra ou por entender o transtorno que isso sempre provoca no funcionamento da casa.
Se você educa pelo medo, ela vai ter dificuldade de se posicionar mais tarde. Valorizando o que ela pensa e mostrando o quanto isso é importante, ela vai desenvolver a capacidade de se colocar e de criticar.
A importância de abrir os ouvidos
Costumo dizer aos meus pacientes que a melhor forma de educar é abrir o ouvido e fechar a boca. Ou seja, compreender a criança na comunicação característica da sua idade.
Uma criança de 5 anos mistura o tempo todo fantasia e realidade e mata os seus inimigos simbolicamente. Se o pai se assusta com isso, e a reprime com um tapa, por exemplo, ela vai interromper a expressão dessa agressividade e vai ter de buscar outras formas de manifestá-la. Muitas vezes, até com sintomas físicos.
Como pais, acho que temos de desenvolver essa capacidade de estar junto dos nossos filhos, de acompanhar as suas mudanças, prestar atenção no que eles falam com ações e palavras, e perceber e valorizar o que já são capazes de fazer sozinhos.
Uma criança de 2 anos não pode subir num muro porque não se desenvolveu o suficiente para isso. Aos 7 anos, no entanto, ela já vai estar pronta para escalá-lo. Por que não deixar?
Lembro que uma vez eu estava sendo entrevistado, ao vivo, na TV Cultura, e defendia essa postura de que devemos ir soltando aos poucos os limites para a criança. Uma telespectadora telefonou para a produção do programa ofendidíssima, argumentando que sempre havia protegido exageradamente o filho e que, ainda assim, a sua educação havia sido perfeita. Tanto que, agora, ele estava com 46 anos e ainda morava com ela.
O exemplo escolhido por essa mãe para demonstrar como havia dado certo o seu modo de educar, olhado de fora revelava, na verdade, o quanto ela bloqueara o filho.
As mudanças das regras angustiam os pais
A questão do limite é mesmo complicada. Ninguém duvida que uma criança não deve, por exemplo, fazer cocô na calça. A regra é fácil de ser ditada e obedecida. A dificuldade de impor determinadas normas acontece quando os limites são ou estão sendo questionados.
Os garotos devem usar brinco? Nossas filhas podem “ficar” com quem quiserem? Devem sair de madrugada? Para cada uma dessas questões, oscilamos nas respostas, desde as mais liberais e modernas até as mais conservadoras e antiquadas.
O mais importante é que, ao nos defrontar com elas, possamos ouvir o que nossos filhos pensam e refletir.
As regras mudam com o tempo, assim como as leis e a própria família. Para cada mudança podemos declarar uma guerra ao abrir o diálogo. Aposto no diálogo.
Sei que nem sempre esse é o caminho mais fácil. Hoje, a comunicação é a principal dificuldade dos pais. O verdadeiro diálogo traz à tona questões que mexem com tabus muito complicados como o da sexualidade. Pensar sobre eles é colocar em xeque regras que assumimos como verdades a vida inteira, às vezes à custa de muito sofrimento.
Mas tenho certeza de que, se conseguirmos escutar sinceramente nossos filhos não só poderemos aproveitar para rever velhos valores, como saberemos discernir que limites devemos deixar a cargo deles.
Sem autonomia para criticar as regras sociais, grandes pensadores, como Freud, talvez não pudessem transformar antigos padrões e ampliar as fronteiras do conhecimento humano. Os pais têm sua parcela de responsabilidade na criação de adultos críticos e transformadores. E a escola também.
O diálogo da família com a escola
Na minha opinião, os papéis se completam. A criança vai levar as questões da família para discutir com os professores e as questões dos professores para discutir com a família. A cada momento que a escola e os pais divergirem, teremos uma crise. Mas isso não é necessariamente ruim e pode, até, ser enriquecedor para o desenvolvimento da criança, se ambas as partes envolvidas admitirem a confrontação, o diálogo.
O que, infelizmente, quase nunca acontece. Os pais têm muita dificuldade de discordar e questionar a escola, porque isso implicaria em participação. Uma disponibilidade que pouca gente tem, até porque a nossa sociedade ainda não é capaz de garantir aos pais tempo suficiente para isso. Aliás, o espaço de encontro entre pais e filhos é cada vez menor.
Abrir debate sobre valores também gera sofrimento e angústia tanto nas pessoas como nas instituições, que para se proteger e se aliviar do incômodo, muitas vezes, adotam atitudes autoritárias.
No final do ano passado, um aluno de 6 anos de uma escola de São Paulo teve um brinco retirado pela professora, sob a alegação de que era perturbador da ordem da classe e prejudicial à atmosfera de estudos.
Esse tipo de comportamento não acontece por acaso. Infelizmente, percebo que hoje há uma tendência maior das escolas ao autoritarismo, por uma série de razões que ultrapassam inclusive a confusão em torno de novos valores.
O melhor substituto para a ação autoritária é a disponibilidade interna de pensar sobre as questões e de discutir com as crianças uma saída conjunta. Isso dá muito trabalho. Se é trabalho, é tempo e dinheiro. Ou seja, há diversos processos, inclusive econômicos, interferindo nisso.
Mas, se quisermos criar adultos independentes, com autonomia para repensar a sociedade, a família e a própria cultura, temos que começar a cobrar das escolas a capacidade de contribuir para isso e ter nós mesmos a disposição de mudar, de enxergar nossos filhos como pessoas, com todo o direito de discordar de nós. Garanto que vale a pena.


Mauro Mercadante

4 comentários:

  1. È bom saber oque eu sou ou fui.
    Abraço.Isabella

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  2. Que legal esse texto.
    Abraço.Lucas Vieira

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  3. Adorei o texto, sou educadora e batalho muito pela autonomia, pela verdadeira autonomia. O texto me ajudou.

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